Entre os astros que surgiram nos anos 80, Christian Bale é um dos que não ficaram presos a uma década e tiveram a chance de mostrar todo seu potencial com o passar do tempo. Ou, por enquanto, uma parte desse potencial.
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Nascido no País de Gales em 30 de janeiro de 1974, de ascendência inglesa, Christian Charles Philip Bale estreou na profissão de ator em 1982, fazendo comerciais com oito anos de idade. Um deles foi para o cereal do jogo Pac-Man, aquele que rodava no Atari, um ano depois. Em 1984 estreou no teatro com a comédia The Nerd, onde dividiu o palco do West End de Londres com Rowan Atkinson, o Mr. Bean. Em 1985 ele fez piloto da animação A Pedra dos Sonhos (The Dreamstone), emprestando a voz para o personagem principal, Rufus. A série animada só seria lançada de fato em 1990, mas, dessa vez, sem a participação dele.
O início no Cinema se daria dois anos mais tarde numa co-produção americana, austríaca e italiana, um filme feito para TV chamado Anastasia: The Mystery of Anna. Impressionada com o garoto, a atriz Amy Irving, que protagoniza a película, recomendou o pequeno ator para fazer um teste para o filme do marido, uma produção de guerra orçada em U$35 milhões. Era O Império do Sol (Empire of the Sun), de 1987, produzido e dirigido por Steven Spielberg.
Aproximadamente 4.000 garotos fizeram o teste para o papel do James Graham. Christian Bale impressionou não apenas o então casal Spielberg, como também seu parceiro em tela, John Malkovich. Também impressionou o National Board of Review, que lhe concedeu um prêmio especial de Melhor Desempenho de um Ator Juvenil. Bale, com 13 anos, começou a receber convites para outras produções e se deparou com o assédio do público e da imprensa. O garoto odiava as entrevistas. Ele mal sabia que esse era apenas o começo...
O sol é para todos
Depois de todo o alvoroço de O Império do Sol, Christian Bale se envolveu na com filmes independentes e de baixo orçamento. Foi nesse período que ele conheceu o ator e diretor Kenneth Branagh, atualmente no comando da adaptação do filme Thor. Além de viver o protagonista e cuidar do roteiro, Branagh dirigiu Bale em Henrique V (Henry V, de 1989), baseado na peça homônima de William Shakespeare. Ambos se encontrariam mais uma vez em Swing Kids – Os Últimos Rebeldes (Swing Kids,1993).
A chance de trabalhar em produções menores deu a Christian Bale um interesse cada vez maior na imersão de seus personagens por meio do método Stanislaviski, também conhecido somente como Método ou Sistema[1]. Uma das características do ator mais admiradas é a capacidade de criar sotaques, falas diferentes para cada personagem. Sendo inglês, a crítica ficou impressionada com seu sotaque americano usado no musical Extra! Extra! (1992).
Graças a essa, digamos, repercussãozinha, a atriz Winona Ryder indicou-o pessoalmente para trabalhar em Adoráveis Mulheres (Little Women). Era 1994 e Christian Bale, com 20 anos de idade, ganhou um pouco mais de notoriedade. Durante as filmagens, conheceu aquela que hoje é sua esposa, Sandra “Sibi” Blazic, na época assistente pessoal de Ryder.
Tal notoriedade fez com que ele se envolvesse em outra superprodução no ano seguinte: a animação Pocahontas, na qual faz a dublagem do personagem Thomas. Contudo, o cinema alternativo não foi esquecido. Como bom criador de sotaques, Christian Bale teve a oportunidade de usar o próprio no filme Metroland, de 1997, cujo personagem, um pai de família encontra-se em crise existencial.
Mais uma vez, o camaleônico ator se torna notável.
O cineasta Todd Haynes deu-lhe o primeiro personagem gay da carreira, Arthur Stuart, que se envolve com Curt Wild, vivido por Ewan McGregor em Velvet Goldmine (1998). Apesar de não ter sido um sucesso, o filme virou cult, sobretudo para os fãs do Glam Rock.
Em 1999 Christian Bale trabalharia novamente com outra obra de William Shakespeare na telona, Sonho de Uma Noite de Verão (A Midsummer Night's Dream), ao mesmo tempo em que era lançado o telefilme Maria, Em Nome da Fé (Mary, Mother of Jesus). E aí Bale foi do céu ao inferno...
De divino a profano
Não, a vida de Bale não entraria em decadência. Na verdade, o encerramento da década de 1990 representaria o início da melhora. E a década terminou em grande estilo com Psicopata Americano (American Psycho, 2000).
O filme foi cercado de controvérsias durante a fase de pré-produção, o que teria gerado um certo mal-estar na realizadora Mary Haron e no próprio Bale, contratados para a tarefa. Antes de fecharem com a dupla, a produtora Lions Gate cogitou Johnny Depp, Brad Pitt e Edward Norton para o papel principal. O nome Leonardo DiCaprio soou forte, assim como o do cineasta Oliver Stone, mas tanto um quanto outro desistiram. O empresário de DiCaprio temia que o personagem Patrick Bateman arranhasse a carreira de seu cliente e, para fazer o agrado das fãs conquistadas desde Titanic, o ex-namorado da modelo Gisele Bündchen se escafedeu.
O filme também se tornou cult e deu mais injeção de ânimo à vida profissional de Christian Bale, que ainda em 2000 entraria em cartaz com o remake Shaft. Samuel L. Jackson, o intérprete do personagem-título, vai de encontro ao personagem de Bale, num papel que só não foi caricato graças ao potencial artístico já acumulado por ele naquela altura.
Nos anos seguintes, o astro, que já contava com fãs sedimentadas, as baleheads – que ficaram desanimadas com o casamento do ídolo ainda em 2000 -, desempenhou papéis de relativo destaque, como John Preston na ficção científica Equilibrium (2002), cujo marketing pretensiosamente dizia “esqueça Matrix”. A despeito da pretensão e da recepção crítica, Christian Bale de novo tira leite de pedra de um filme considerado tão carismático quanto um croquete de rodoviária.
Considero Equilibrium meu guilty pleasure. Mas isso é outra prosa.
Até que veio a produção espanhola O Operário (El Maquinista, The Machinist), a qual traz o ator num aspecto cadavérico, ao sinalizar até onde vai o extremo da culpa. Para viver o baixo astral (xô, Xuxa!) do protagonista Trevor Reznik, Bale, que mede 1,83m, perdeu 28kg, deixando-o com uma massa corporal de 54kg. Ele quis chegar a 45, mas o diretor Brad Anderson recomendou que não chegasse a tanto, para não comprometer a saúde. A dieta de Bale consistia numa xícara de café e uma maçã – ou uma lata de atum – por dia.
Apesar da dedicação total em seus papéis (restam dúvidas disso depois d’O Operário?), parecia que nenhum esforço de Christian havia valido a pena para, enfim, ganhar a ribalta. Foi quando a Warner Bros. pensou em resgatar uma recente franquia...
Um novo gás
Não, ninguém peidou. A WB, em 1997, quase sepultou de vez a franquia Batman nos cinemas. O começo já não foi tão bem assim, a começar pela escolha do ator Michael Keaton para representar o Cavaleiro das Trevas. E terminou da pior fora possível com um filme extremamente formulaico. Joel Schumacher, diretor dos dois últimos, tentou remediar a situação. Sugeriu à Warner que fosse feita uma adaptação da história Batman – Ano Um, de Frank Miller, com o Homem-Morcego nos primórdios da luta contra o crime. A sugestão foi anotada, mas o estúdio optou por defenestrar Schumacher, para alegria de muita gente.
Em meados de 2000 a Warner chamou o cineasta Darren Aronofsky, que havia realizado os filmes Pi e Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream) para escrever e dirigir o novo longa de Batman. Aronofsky chamou o quadrinhista Frank Miller para escrever junto. Aronofsky chegou dizer para “esquecer tudo o que você imagina do Batman. Estamos começando uma coisa completamente nova”. E era. O script mostrava um Bruce Wayne sem-teto com um Alfred negro, mecânico, apelidado de “Big Al”. O Batmóvel seria um Lincoln Town Car.
Essa liberdade criativa, pelo visto, fez a Warner desistir da ideia. Com isso, Darren Aronofsky e Frank Miller se desligaram do projeto. Mas o nome principal que surgia na mente de Aronofsky foi o de Christian Bale, que teve contato com o personagem lendo algumas histórias emprestadas de um amigo. Bale também desistiu do projeto.
Até que Christopher Nolan, que andava de bobeira depois de não dirigir a cinebiografia do bilionário Howard Hughes, soube que a Warner ainda queria resgatar o Batman, agora com o guião de David Goyer. Nolan havia dirigido Insônia (Insomnia) para o estúdio e, assim, envolveu-se no projeto. “Optei por fazer um filme sobre outro bilionário excêntrico”, brincou Nolan.
E lá estava Christian Bale entre os atores testados! Em setembro de 2003 o presidente de produção da Warner Bros. Jeff Robinov anunciou o nome do astro como o novo intérprete de Batman/Bruce Wayne. O primeiro ator não-americano que faz o Batman. O sétimo a fazê-lo em versão live action. E também o mais jovem.
Mas antes, era preciso recuperar o peso perdido em O Maquinista. Ganhou ganhou massa se alimentando basicamente de pizzas, refrigerantes, sanduíches e afins. Digam a verdade, quem não queria uma dieta assim, hein? Depois foi só moldar o corpo e chegar a 95kg de músculos.
Antes do lançamento de Batman Begins (2005), Bale voltou à Dublagem com a animação japonesa O Castelo Animado (Howl’s Moving Castle, 2004), na qual dubla o Howl. A dublagem desse filme foi diferente das demais que ele fizera, por ser um longa japonês (sem trocadilhos). Bale e os outros atores tiveram a preocupação da sincronia labial enquanto interpretavam, diferente de animações feitas originalmente em língua inglesa, nas quais as ações nos desenhos são feitas depois que o elenco vive cada personagem.
Então, em 2005, veio o reboot da franquia Batman e, finalmente, a atenção merecida. Com o herói, Christian Bale soube diferenciá-lo do seu alter ego ricaço, ao criar modos de falar, de andar diferentes. Uma das grandes sacadas foi “borrar” a voz enquanto se vestia de Batman. Num mundo real, seria imprescindível disfarçar a voz diante das pessoas, principalmente as de maior contato.
No mesmo ano, o sucesso não só foi no profissional como também no pessoal, como diz o Faustão. Nasce, então, a filha do ator Emmaline Bale.
Com a renovação da franquia Batman, o mercado cinematográfico se abriu para Bale:
· Tempos de Violência (Harsh Times, 2005), do mesmo roteirista de Dia de Treinamento;
· O Novo Mundo (The New World, 2005), retornando ao universo de Pocahontas;
· O Sobrevivente (Rescue Dawn, 2006), projeto que só foi adiante graças à fama obtida pelo ator;
· O Grande Truque (The Prestige, 2006), repetindo a parceria com Christopher Nolan;
· Os Indomáveis (3:10 to Yuma, 2007) ;
· Não Estou Lá (I’m Not There, 2007), cinebiografia do cantor Bob Dylan;
· O megassucesso: Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008);
· O Exterminador do Futuro – A Salvação (Terminator Salvation, 2009);
· Inimigos Públicos (Public Enemies, 2009)
E, finalmente, O Vencedor (The Fighter, 2010), filme que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, o SAG Awards de Melhor Ator Coadjuvante as indicações ao BAFTA e Oscar na mesma categoria (o BAFTA entregou ontem o prêmio para Geoffrey Rush em O Discurso do Rei).
Em O Vencedor, Christian Bale rouba o filme, ao compor um personagem tragicômico, cheios de manias - notem que ele coça o saco e procura mexer os ombros em momentos tensos, da mesma maneira que um boxeador. Tal como em O Operário e O Sobrevivente, ele perdeu bastante peso para entrar na pele e osso (menos pele e mais osso) do ex-lutador Dicky Eklund.
Uns dias de fúria
No período em que estava em Londres para a première de Batman – O Cavaleiro das Trevas, CB se envolveu numa briga família. O caso parou na delegacia. A acusação foi que o ator agrediu fisicamente a mãe e uma das irmãs. Houve muito disse me disse sobre a situação, mas supostamente a confusão se deu porque Bale se recusou a emprestar dinheiro para a irmã. Algumas testemunhas negaram a agressão física e relataram que a agressão teria sido somente verbal. E que o imbróglio teria também envolvido a esposa, Sibi, a qual foi defendida pelo marido.
Bale foi liberado depois de prestar depoimento e as acusações contra ele foram retiradas.
O problema familiar parece ter afetado a cachola do astro. No mesmo ano, enquanto rodava o quarto Exterminador no Novo México, EUA, Bale se enfureceu com o diretor de fotografia Shane Hurlbut. Hurlbut teria arruinado a concentração de CB durante uma das cenas. Com isso, Christian surtou e humilhou o cinematógrafo dentro dos maiores significados que a palavra “fuck” é capaz de sugerir em inglês.
E o diretor do filme, McG (de As Panteras)? “Eu não vi nada”, disse o cagão.
Em 2009 um áudio contendo o surto foi parar na Web e rapidamente ganhou o mundo. Bale, em conversa com uma rádio de Los Angeles, explicou que havia procurado Shane Hurlbut para se desculpar no dia seguinte ao qüiproquó e, com o caso vindo à tona na Internet, ele faria questão de mais uma vez se desculpar, agora publicamente. De acordo com o ator, o mal-estar entre os dois passou e foi resolvida. “Agi feito um babaca. Vou entender se isso for usado para me sacanearem por aí”.
Num futuro nada distante
A essa altura, Christian Bale está filmando Nanjing Heroes, baseado no romance do autor chinês Yan Gelin, The 13 Women of Nanjing, sobre a invasão da armada japonesa à então capital chinesa, Nanquim (Nanjing) em 1937. Depois entra em produção com o terceiro Batman, The Dark Knight Rises.
Boatos o colocam entre os cotados para a adaptação de outro personagem de Histórias em Quadrinhos, mas da concorrente Marvel Comics: o pistoleiro Roland Deschain de A Torre Negra: Nasce o Pistoleiro.
Rumores também garantem que ele será o inventor Nikola Tesla num projeto ainda sem título.
E mais recentemente o cineasta Brad Anderson (O Operário), quer CB (que não é Cara-de-Bunda) em Concrete Island. O papel é descrito como um Robinson Crusoé urbano.
...
Entre os personagens do Christian Bale, eu me amarro no Batman e no Patrick Bateman. E você? Comenta aí!
Cinema Insano, por Lucas Penafort
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-Insano, não?-
[1]Método de atuação concebido pelo dramaturgo russo Constantin Stanislavski, no qual combatia o exagero das atuações vistas no teatro. O Método busca a naturalidade, a verdade na ação. Em vez de fingir que é o personagem, o ator deve SER o personagem. Stanislaviski dizia: “Não interprete. Viva!”.
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