“Trancou toda a casa? Encheu a vasilha do Rex com a comida dele? Então vambora!”
Uma consideração sobre a frase que iniciou a postagem:
Trancar a casa toda? Como assim? Pobre só tem uma TV de 14 polegadas, uma geladeira que o esmalte tá saindo e um vira-lata cheio de sarna que só serve pra latir.
Pode parecer até clichê, mas eu tenho que escrever isso: POBRE É UMA DESGRAÇA! E mais desgraça ainda quando se acha no direito de viajar. Vê se pode! O que eu vou escrever aqui é puro fruto de uma realidade degradante que eu um amigo meu, pobre, passou xD.
Na rodoviária (pobre não vai de carro porque não tem e muito menos de avião porque não pode) já chega gritando com o filho (Jabulanisson ou Reripóterson) porque o moleque correu pra aquelas máquinas de chiclete em forma de bola. Em seguida, vai comprar a passagem (além de pobre, ainda por cima é brasileiro, sempre deixa tudo pra última hora, inclusive a passagem pra Quatipurú, Macapazinho, Pangaré, ou qualquer cidade que nunca ninguém ouviu falar, a não ser claro, que você seja pobre).
Antes de embarcar, aloca no bagageiro a sua bagagem: Uma mala que uma das alças rasgou, outra mala que tem a logomarca da empresa que o pai trabalha (ganhou ela na confraternização de fim de ano) e uma sacola plástica, cheia de roupa, amarrada com outro pedaço de plástico (porque pobre também faz a parte dele pra salvar o meio ambiente ¬¬). Assim, pai, mãe e SETE filhos podem embarcar (porque pobre também tem direito de enjoar da sua televisão de 14’)
Durante a viagem, resolve lanchar! A mãe tira da bolsa um pacote de bolacha cream crack, nove pães com margarina, e uma garrafa de suco de xarope de uva, e um canudinho, que o primogênito pegou no bar da rodoviária. Aí já viu: A garrafa de suco passa pela mão de todos, fazendo aquela gritaria e o filho caçula reclamando que o pão dele tá sem margarina.
Chegando ao destino raio que o parta, a família feliz desce naquele balneário, entupido de Homo sapiens pobrensis assim como eles, onde a música que tá rolando é forró, o lago não tem água corrente e tá todo mijado.
Ponto turístico?! Não existe isso pra pobre. Cristo Redentor? Praia de Copacabana? Só se for por foto de revista da sala de espera. Bom mesmo é aquele churrasquinho de gato, com aquela garrafa de Glacial na beira do lago.
No final da tarde, o pai já tá porre, a mãe tá reprimindo uma dor de cabeça (porque é doença de rico), e as crianças estão com fome e sede. Quando finalmente resolvem pegar o bonde de volta pro morro. A saga só não é a mesma porque agora tá todo mundo com fome, estressado e sem pão com margarina.
Só pobre mesmo pra sair de casa e voltar estressado. Tomara que o relato acima toque o seu coração e faça com que você ESTUDE! São os votos do seu amigo.
Crônicas Insanas, por Nagib Mekdece
Colunista no blog Insanidade Parcial
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