quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cinema Insano #1 - De Médico e Louco, o hannibal tem os dois

Olá! Hoje é a minha estreia aqui no Insanidade Parcial. Sendo um louco por Cinema, recebi o convite para comandar esta coluna no blog. Mas uma dúvida me pairava sobre o que escrever. Matutei tanto a ideia e cheguei ao óbvio: se o blog se chama Insanidade Parcial, por que não começar a falar um pouco sobre os filmes de um louco, varrido aspirado e enxaguado como o Dr. Hannibal Lecter, vivido na tela por Sir Anthony Hopkins?

Antes de chegar a Hopkins, a história de Hannibal na telona teve início com Manhunter, dirigido por Michael Mann (Fogo Contra Fogo, Inimigos Públicos) e produzido pelo recém-falecido Dino De Laurentiis. Aqui o famoso canibal foi interpretado por Brian Cox (William Striker em X-Men 2), um ator que mais parece o José Sarney um pouco mais jovem.

Em 1986 entra em cartaz Manhunter, adaptação do romance Dragão Vermelho, escrito por Thomas Harris, o homem por trás (ui!) do Lecter, chamado de “Lecktor” no filme. A película foi um fiasco e De Laurentiis doou – isso mesmo, doou – os direitos da adaptação de O Silêncio dos Inocentes à Orion Pictures, que mais tarde seria engolida pela MGM.

Definidos Gary Goetzman como produtor executivo e Jonathan Demme como diretor (a “dupra” faria em 1993 o sucesso Filadélfia) um novo Lecktor, digo, Lecter precisaria ser definido. Vários nomes foram cogitados. Sean Connery, Jeremy Irons, Jack Nicholson e Gene Hackman foram alguns desses nomes. Este último chegou a adquirir os direitos para dirigir a adaptação, bem como assumir o protagonista, mas Hackman, incomodado por viver um papel violento desde que se viu em Mississipi em Chamas, picou a mula do projeto.

Impressionado com o desempenho de Anthony Hopkins em O Homem Elefante, Jonathan Demme chamou o cara. De acordo com o próprio Demme, havia 300 candidatas ao papel da Clarice Starling, que ficou com a pequena notável Jodie Foster.

Era 1991 e a dobradinha Hopkins/Foster se mostra o grande charme de O Silêncio dos Inocentes. A jovem agente Starling não pensa duas vezes em recorrer à ajuda de Lecter, um psicopata cujo olhar é o suficiente para fazer o espectador ter aquela sensação de “deu merda!” a qualquer momento. Os encontros entre Starling e Hannibal revelam a natureza dos personagens, sem perder o foco, que é encontrar o assassino Buffalo Bill.

O filme, como todos sabem, foi um arraso (/modo bichalôca ativado). Levou o Oscar 1992 de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Atriz.

Dez anos depois chegaria Hannibal,sem Jonathan Demme sem Jodie Foster, que detestaram os tratamentos de Thomas Harris ao roteiro. Anthony Hopkins relutou em voltar ao papel, mas acabou cedendo (ui!), agora com Juliane Moore como Clarice Starling (como mesmo, se ela deixar), com produção de Dino De Laurentiis e direção de Ridley Scott, vindo do oscarizado Gladiador.

Dez anos depois também na trama e sem o brilho de O Silêncio os Inocentes - que se permitia explorar mais os personagens (Starling foi a mais prejudicada) - , Hopkins carregou sozinho o filme nas costas, que preferiu apostar mais na explicitude da natureza doentia do personagem-título. Juliane Moore pouco faz com a sua personagem, embora transmita maturidade e liderança dada à função que ocupa no FBI. Mas vale destacar o desempenho de Gary Oldman, que se transforma por debaixo da maquiagem de Mason Verger. E sendo O ator que sabe gritar, Oldman não perde a oportunidade de soltar o gogó num momento bem apropriado – e óbvio.

Para tentar desfazer Hannibal da mente, Dino De Laurentiis resolve produzir a refilmagem Dragão Vermelho, cujo título do filme é o mesmo do livro. Ele chama Brett Ratner (X-Men: O Confronto Final), que havia dirigido A Hora do Rush 1 e 2. O nome de Rattner deixou o público reticente, mas logo o resultado transformou o temor dos fãs. Poderia ser pior. Michael Bay esteve perto de ser o realizador. Danny Elfman pontua corretamente a trilha sonora e Dante Spinotti mais uma vez fotografando a história (ele fotografou Manhunter).

Dragão Vermelho se passa oito anos antes de O Silêncio dos Inocentes e ainda que não tenha o charme de seu antecessor, Rattner deu a oportunidade de fazer com que seus atores pudessem construir melhor seus personagens. Will Graham (Edward Norton) demonstra carisma, força de vontade, medo.

Sobre o medo, gosto sempre de frizar a cena em que Graham, depois de reencontrar Hannibal, tira o paletó para, então, percebermos o quanto ele se borrou de medo diante do doutor. Trata-se da camisa enxarcada de suor.

No Cinema, as ações falam por si. Não é preciso que o personagem exclame alto e claro “que meda!” ou mesmo algum vício de interpretação como “engolir seco” - Brett Ratner quis que Norton usasse de tal artifício, mas o ator se recusou justificando que isso é canastrice. Bem decidido. O diretor então mandou o metralhágua pra debaixo dos braços de Norton!

Ralph Fiennes encarna perfeitamente o serial killer, conferindo-lhe uma bela dose de fragilidade na relação com a também frágil e doce Reba, personagem de Emily Watson.

Contudo, ao assistir ao filme, fiz-me duas perguntas: fui o único a achar o desempenho do Anthony Heald meio over? Aposentar-se, morar no litoral e cuidar de embarcações não soa clichê?

De todo modo, o filme conseguiu agradar a gregos e goianos.

Por sorte, Manhunter não atrapalhou a feitura de O Silêncio dos Inocentes e os filmes seguintes. Anthony Hopkins hoje é referência mundial quando se fala em Cinema. Seu Hannibal causa taquicardia. “Deu merda!” seria pouco, mesmo que você o encontrasse num concerto de ópera, com muita gente em torno.

E, não, até hoje não tive coragem de assistir ainda ao Hannibal – A Origem do Mal . A história me cheira um terror adolescente. Talvez peguei leve definindo-o precocemente como “terror adolescente”. Eu vou criar coragem. Juro. Vou cometer essa loucura. Eu devo isso ao blog.

Por ora, fiquem com duas imagens da minha figura de ação do Hannibal. Mordam-se (sem trocadilhos) de inveja!

Cinema Insano, por Lucas Penafort
Colunista do blog Insanidade Parcial

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